“Para reduzir a gordura corporal são necessários exercícios aeróbios de baixa intensidade e longa duração. Certamente você ouviu esta frase milhares de vezes, porém eu posso lhe garantir que esta é uma das maiores mentiras da nossa história, sendo propagada devido à desinformação, falta de interesse, interpretação equivocada e ausência de senso crítico de alguns profissionais” (Gentil, P., 2000).
Os exercícios aeróbios têm seus benefícios, porém, não são nem de longe os mais eficientes para a diminuição do percentual de gordura.
Segundo pesquisa conduzida por Tremblay em 1994, “para um dado nível de dispêndio energético, exercícios vigorosos favorecem balanço calórico e balanço de lipídios negativos em proporções maiores que exercícios de menor intensidade. Além disso, as adaptações da musculatura esquelética ocorridas como resposta ao treinamento intervalado intenso, como o exemplo da musculação, parecem favorecer o processo metabólico dos lipídios”. A pesquisa destinava-se a submeter 2 grupos de indivíduos destreinados a testes específicos. O primeiro grupo realizou exercícios de baixa intensidade (aeróbios) por um tempo determinado em semanas, 3 a 4 vezes por semana. O segundo realizou exercícios de maior intensidade e com um volume de treino menor. De acordo com os resultados, o grupo 1 (menos intenso) gastou mais que o dobro de calorias que o grupo 2 (120,4 MJ em comparação com 57,9MJ), porém os indivíduos do segundo grupo obtiveram uma redução no percentual de gordura bem maior que o primeiro. Resumindo, o grupo 1 teve um desgaste muito maior, perdeu muito mais tempo e, apesar de um gasto calórico maior, não conseguiu perder gordura como o grupo 2 (mais intenso). A propósito, isso acontece com muita freqüência nas academias; indivíduos perdem horas e horas com atividades aeróbias ou, como diria nossa amiga e campeã de fitness, Larrissa Reis, aulas de “Body Bobagens”, quando poderiam ter um resultado muito mais efetivo, no que tange à redução da gordura, com apenas 30 ou 40 minutos na sala de musculação.
As atividades intensas levam vantagem até mesmo quando compara-se exercícios de mesmo dispêndio calórico total. Prova disso foi um estudo realizado em 1995 por Grediagin et al, que consistia em submeter dois grupos a diferentes intensidades de exercícios, sendo que as atividades eram realizadas até que se chegasse ao total de 300 Kcal. Ao final do estudo, ambos os grupos perderam a mesma quantidade de gordura, porém o grupo que se exercitou intensamente ganhou mais que o dobro de massa magra em relação ao outro. Segundo o próprio Grediagin et al, “se o objetivo é perder gordura e o tempo for limitado, as pessoas devem se exercitar com segurança nas intensidades mais altas possíveis…”.
“Especificamente para a redução da gordura corporal, as atividades aeróbias de baixa intensidade são, digamos assim, uma prática inadequada; então de onde surgiu a teoria que sugere exatamente o contrário? Pode-se dizer que inicialmente foi da falta de conhecimento e até mesmo o paradigma mecanicista, propagado à medida que os profissionais abstinham-se em questionar o paradigma dominante. Deve-se perder o péssimo hábito de decorar literalmente textos de livros ao invés de analisar criticamente o que está escrito” (Gentil, P., 2000).
E tem mais, exercícios de alta intensidade têm respostas metabólico-hormonais diferentes dos de baixa intensidade. Sua eficiência é muito maior quando levamos em conta o período pós-exercício. Nesses casos, é verificado que os exercícios de maior intensidade proporcionam gasto calórico mais elevado e maior degradação de carboidratos e gorduras após o treino (Chad et al, 1991; Smith et al, 1993; Pacheco Sanchez, 1994; Phelain et al, 1997, Klausen et al, 1999, Lee et al, 1999).
Deixando um pouco de lado a teoria, atenham-se aos exemplos do mundo das competições esportivas. A grande maioria dos atletas do fisiculturismo, figure e fitness, a bem da verdade, não são muito fãs das atividades aeróbias, no entanto, não existe nenhuma modalidade esportiva em que os atletas se encontram com percentual de gordura tão baixo; em alguns casos chega-se aos incríveis 2 ou 2,5%. Nem os mais magricelos maratonistas conseguem esta façanha.
Agora me respondam: passar horas e horas se exercitando com atividades aeróbias não é uma total perda de tempo? E eu vou mais além: perda de tempo e saúde, pois desgastantes horas de atividade aeróbia desencadeiam uma verdadeira tempestade de radicais livres em seu organismo. Portanto, cuidado com aquela velha conversa de que a atividade aeróbia melhora sua qualidade de vida e não exagere, pois ao invés de aumentar sua expectativa de vida você poderá, na realidade, encurtar esse tempo.
Curiosidade: Por volta de 1995, Ken Hutchins, crítico ferrenho e radical de qualquer atividade aeróbia, lançou diversas críticas e questionamentos condenando essa prática e atacando os principais defensores da “filosofia aeróbia” como Dave Carpenter e Michael Pollock, pupilo de David Cooper, ex-presidente do American College of Sports and Medicine. Até hoje não obteve nenhuma resposta simplesmente porque não há como negar que toda a base desta filosofia foi construída sobre premissas falsas e linhas de raciocínio simplistas e equivocadas.
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Sergio Sheman
Bioquímico com especialização em bioquímica do exercício, do treinamento e nutrição esportiva, atua no meio esportivo há mais de 30 anos como preparador físico, atleta, consultor técnico, palestrante, autor de inúmeros artigos em publicações e sites da área, coach de diversos atletas daqui e de fora do Brasil, nas áreas do fisiculturismo e fitness, bem como nas artes marciais.
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